quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Petrobras chega aos 60 anos cercada de incertezas


DENISE LUNA
DO RIO



A maior empresa brasileira chega aos 60 anos com muitos motivos para comemorar, mas também com muitas incertezas pela frente.
Dona de valiosas reservas no pré-sal, com ou sem futuros leilões, a Petrobras está com o caixa fragilizado e depende de uma radical mudança na política de ajuste de preços dos combustíveis para evitar uma nova capitalização, medida que seria considerada trágica pelo mercado. 


Editoria de Arte/Folhapress

Na última capitalização, em 2010, a empresa conseguiu R$ 120 bilhões ao emitir mais ações. Mas diluiu os acionistas minoritários e fortaleceu a presença do governo no capital da companhia.

A nova injeção de recursos se faz necessária para garantir a realização do seu ambicioso plano de negócios, que pulou de um patamar de U$ 5 bilhões por ano na década passada, para US$ 42 bilhões em 2012. Sem uma nova política de ajuste de combustíveis, o mercado avalia que a capitalização será o caminho mais provável, mas só deve ocorrer depois das eleições presidenciais, em 2014. 

Este ano, a empresa já captou US$ 11 bilhões em bônus para cumprir os investimentos previstos de US$ 46 bilhões em 2013. A companhia não pode, porém, aumentar ainda mais a sua dívida, sob o risco de perder o grau de investimento concedido por agências de rating. De 2009 até hoje, o endividamento da Petrobras cresceu 210%. 


PERFIL DAS DÍVIDAS


A Moody's já classificou o panorama das dívidas da companhia como negativo, apesar de manter o grau de investimento. Preocupada, a Standard & Poor's convocou uma reunião com a presidente da Petrobras, Graça Foster, que pediu paciência à agência, "porque estamos chegando lá", argumentou Graça. Sem o grau de investimento, a empresa teria que captar recursos a um preço mais elevado no mercado. 

O temor do mercado é de que com o caixa enfraquecido e sem poder captar, a empresa tenha como único caminho a capitalização e, a exemplo do que ocorreu em 2010, os acionistas minoritários sejam diluídos, com o governo ganhando cada vez mais força no comando da petroleira. 


INSTRUMENTO DE POLÍTICA

 
Enfraquecida pelo seu constante uso como instrumento de política pública, a empresa negocia no momento possíveis mudanças nos ajustes de preços com o seu controlador majoritário, a União, que teme o impacto inflacionário que teria uma equiparação dos preços da gasolina e do diesel com o praticado no mercado externo. 

A defasagem, que vem oscilando de acordo com o humor do mercado internacional, chegou a significar uma diferença de preços de 30% para cada um dos dois combustíveis este ano. 

Hoje, por questões sazonais, gira em torno dos 11% para a gasolina e 18% para o diesel, segundo cálculo do diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura, Adriano Pires. 

As perdas passadas por conta da defasagem, de cerca de R$ 1 bilhão por mês, não poderão ser recuperadas. O aumento de preços de combustíveis este ano, tema de todas as reuniões do Conselho de Administração da estatal, presididas pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega, guardião da inflação, não deverá passar de 5% a 6%, o que resolve apenas em parte o problema do caixa da companhia. 


60 ANOS EM SETE

 
Por outro lado, a Petrobras chega aos 60 anos com uma grande experiência em águas ultraprofundas, o que a habilita a comandar no país a operação das grandes descobertas feitas no pré-sal, um tesouro classificado pela presidente Dilma Rousseff como "bilhete premiado", e que vai levar a empresa a produzir em sete anos o mesmo volume que levou 60 anos para conseguir. 

Fundada em 1953 pelo então presidente Getúlio Vargas, para garantir a independência econômica do país, a estatal deu um salto tecnológico com o fim da ditadura militar e posterior quebra do monopólio do mercado de petróleo, em 1997. 

O patamar de produção passou de cerca de 600 mil barris diários na época do monopólio, para cerca de 2 milhões de barris em 2011, sofrendo depois disso um recuo para patamares de 2009 (1,9 milhão de barris) após uma série de paradas programadas para manutenção, atraso na entrega de novas plataformas, entre outros contratempos. 

A empresa, porém, tem como meta dobrar a produção até 2020, com ajuda do pré-sal, para 4,2 milhões de barris diários. Sem refinarias para processar todo esse petróleo no Brasil, a perspectiva é de que a companhia se torne uma grande exportadora nesse período, de pelo menos 1 milhão de barris de petróleo. 

Esse número poderá ser ainda maior depois que a empresa começar a produzir o petróleo do campo de Libra, daqui a cerca de cinco anos, a maior descoberta já feita pela empresa no país e que será leiloado no próximo dia 21 de outubro. 



Editoria de Arte/Folhapress

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