domingo, 13 de outubro de 2013

Pequenos magnatas


Casinha de boneca em tamanho real, suíte de hotel cinco-estrelas só para eles, casaco de pele de grife e um quarto dos sonhos que custa US$ 750 mil. Ser criança nunca foi tão sofisticado

Por Bruna BORELLI
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Assista à reportagem sobre o Fashion Weekend Kids 2013, realizado na Ilha de Comandatuba

Quando a charmosa Suri Cruise ganhou de presente de Natal dos pais famosos, os atores hollywoodianos Katie Holmes e Tom Cruise, uma casinha de boneca em tamanho real, no valor de US$ 24 mil, foi um auê. Havia um misto de espanto e indignação por parte da opinião pública que se liga no assunto celebridades, diante de um mimo tão caro para uma criança de apenas 6 anos. O que poucos questionaram foi: dá para fazer uma casinha de boneca tão cara assim? O que tinha lá dentro para valer tanto? A resposta é: sim, dá. Afinal de contas, em escala reduzida, tudo naquela construção de 20 m² montada no jardim da casa da mãe é idêntico ao que se vê em uma residência normal. 
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Moda mirim: grifes tradicionais de luxo, como a Gucci, apostam no mercado infantil
com peças que ultrapassam o valor de R$ 35 mil, como o casaco de pele da foto
 
 
Fogão, pia, móveis, encanamento, um projeto completo assinado pela empresa Sweet Retreat Kids. Ou seja: trata-se de uma brincadeira que vem sendo levada a sério por empresas de outros ramos para atender uma clientela mirim super-rica e cada vez mais exigente. Suri poderia ser uma exceção. Só de sapatos, por exemplo, ela tem cerca de US$ 150 mil, boa parte da grife de Marc Jacobs, o estilista recém-saído da maison Louis Vuitton. Faz algum sentido isso? Para o mundo desses pequenos magnatas, faz. E o mercado de luxo, com suas marcas, sensível a isso, oferece grande variedade de produtos e serviços a eles. O cenário econômico da década parece positivo. 
 
Apesar da crise econômica mundial em 2008, que desacelerou o crescimento do setor, a categoria destinada aos abonados de nascimento deve fechar este ano com US$ 10,1 bilhões em receita, segundo a consultoria britânica Ibisworld. Seja com lojas destinadas às crianças, seja apenas com espaços exclusivos para a linha infantil, marcas como a francesa Dior e as italianas Armani e Gucci apostam nesse nicho para incrementar o faturamento. Esta última, por exemplo, oferece casacos de pele para as meninas por R$ 35 mil e smoking para os rapazinhos por R$ 3 mil.“É uma maneira que as grifes encontraram para crescer sem perder o posicionamento premium”, diz Luciano Deos, CEO da consultoria GADLippincott. 
 
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Miniatura de luxo : a construção de 20 m2 funciona como uma casa de verdade,
com eletricidade, encanamento e móveis projetados
 
“Quando uma mar­ca quer se expandir, ou ela aumenta a oferta, baixando o preço médio, ou estende o portfólio de produtos.”
Grifes brasileiras de moda e acessórios também têm se movimentado nessa direção. A Trous­seau, de roupas de cama e banho, por exemplo, está com a linha Petit há cinco anos. “Ela já representa 12% da nossa receita”, afirma Adriana Gasparian Trussardi, sócia e diretora de criação da marca. Um dos hits da coleção é uma manta para recém-nascidos que custa R$ 350. Hoje, com três das 28 lojas físicas da marca, a Trousseau Petit pretende investir cada vez mais no público infantil. 
 
 
 
Com menos de dois anos de existência, a Enfance, de roupas, brinquedos e enxoval para crianças de até 6 anos, virou sucesso na internet e efetua 90% de suas vendas online. O que começou com soft toys (nome dado a brinquedos feitos com materiais confortáveis e antialérgicos) acabou transformando-se em linhas de enxoval e roupas infantis. Os bichinhos da Enfance – o ursinho sai por R$ 260 – podem ser personalizados com o nome ou inicial do petiz e também trocam de roupa, inclusive combinando o traje com o da própria criança. “O nosso público-alvo também são os pais, pois eles sempre querem o melhor para os seus filhos”, diz Lia Cintra, proprietária da Enfance. 
 
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Um possante para pequenos: réplicas em miniatura de carros Audi
e Mercedes-Benz, que atingem 4 km/h, saem por R$ 2,1 mil
 
“Querem o melhor pediatra, a melhor escola e também os melhores produtos.” Entre os brinquedos (sim, são crianças e ainda gostam disso), as maiores novidades também reproduzem o mundo dos adultos. As réplicas em miniaturas de carros Audi, Mercedes-Benz e Mini Cooper, fabricadas na China, fazem sucesso na BB Trends, revendedora de brinquedos, com lojas em São Paulo e Rio. O preço para levar um possante deste para casa, que é equipado com controle remoto de segurança para os pais, é de R$ 2,1 mil.
 
 
 
Cinco-estrelas A hotelaria de luxo no Exterior é outro setor que tem olhado com atenção para o mercado infantil de alta renda. Com diárias de até R$ 12 mil, o The Ritz London, localizado no centro de Londres, mima seus pequenos hóspedes com o cartão Very Special Kids (“crianças superespeciais”, em inglês), que dá direito a mimos como roupões, pantufas, presentes, cosméticos personalizados e um concierge exclusivo, que leva guloseimas até o quarto toda noite, como milk-shakes e sorvetes, sem nenhum custo adicional. Com diversas unidades nos Estados Unidos, outro grupo, o Trump Hotel Collection, do magnata americano Donald Trump, também faz de tudo para deixar os clientes mirins satisfeitos. 
 
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Estratégia: a brasileira Enfance, de soft toys, oferece roupas infantis que combinam com as dos bichinhos
 
As regalias vão desde um “simples” cardápio com gosto de infância (um bom hambúrguer não tem preço...) até opções exclusivas nos spas de seus hotéis, além de babás e aulas de natação. Os valores mudam de acordo com a localização do hotel.
 
Quem também tem se preocupado com o conforto dos babies – e a tranquilidade dos pais – é a companhia aérea Etihad Airways. Em setembro, a empresa lançou o programa “Flying Nannies” (babás voadoras, em inglês). A ação pioneira não tem nada a ver com Mary Poppins, do filme infantil de 1964. A ideia da companhia aérea dos Emirados Árabes é “deixar a viagem mais agradável”, segundo Aubrey Tiedt, vice-presidente de serviços da empresa. 
 
 
 
“Isso inclui servir refeições para as crianças antes dos adultos e entretê-las para que o voo não se torne maçante”, diz a executiva. As 500 babás que dão início ao programa foram treinadas por meses pela companhia aérea e só não vão poder trocar fraldas ou levar as crianças ao banheiro, por uma questão legal. De resto, os pais podem relaxar à vontade, certos que seus filhos estarão entretidos com truques de mágica, teatro de fantoche e até aulas de origami e artesanato. “Essas exigências partem muito mais dos pais do que dos próprios filhos”, diz Deos.
 
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Babás voadoras: a Etihad Airways, dos Emirados Árabes, lançou o programa "Flying Nannies",
que prioriza o conforto dos clientes mirins em todos os seus voos
 
Em terra firme, os mini-milionários podem ter um quarto dos sonhos para chamar de seu. Entre os projetos recentes do escritório de arquitetura Chris Pollack, de Nova York, está, por exemplo, a renovação de uma mansão em Manhattan para comportar uma suíte de 100 m² destinada ao filho pré-adolescente do casal proprietário. Lá, o garoto terá à sua disposição mesas de pingue-pongue e sinuca, estúdio de música, uma sala de cinema e videogame e até uma cozinha própria, tudo isso pela bagatela de US$ 750 mil. 
 
 
 
“Nossos clientes estão cada vez mais atentos a isso”, diz Pollack ao diário de economia e negócios The Wall Street Journal. Essas alas projetadas para agradar aos pequenos chegam a ter mimos como passagens secretas inspiradas na saga do bruxinho Harry Potter, fliperamas, estação de DJ e outros equipamentos eletrônicos da mais alta tecnologia. E ainda ficam implicando com a singela casinha de boneca da Suri.
 
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Sonho de criança : o Ritz londrino oferece aos hóspedes de até 12 anos vários mimos, 
como roupóes, presentes e milk-shakes, sem custo adicional


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