sábado, 19 de outubro de 2013

A nova ameaça do Tio Sam


O mundo, que já olhava com desconfiança para os EUA desde os episódios recentes de espionagem contra nações aliadas, passou a ter verdadeiro te­­mor diante da possibilidade real de calote da dívida americana em escala global

por Carlos José Marques

O mundo, que já olhava com desconfiança para os EUA desde os episódios recentes de espionagem contra na­­ções aliadas, passou a ter verdadeiro te­­mor diante da possibilidade real de calote da dívida americana em escala global. Foi somente no último minuto, por um triz mesmo, que republicanos e democratas chegaram a um acordo para pôr fim ao impasse. Ainda assim, temporariamente.

 A perplexidade internacional com o embate político que ameaça a incipiente retomada da economia dos EUA – e, por tabela, do restante dos mercados – cresce à medida que aumenta o poder de influência da ala conservadora e radical dos republicanos, o “Tea Party”. Esses pregam o colapso da administração pública federal enquanto suas reivindicações não forem atendidas. 

Na mesa de discussões, a maior bandeira social (e de dividendos políticos) de Obama: seu generoso plano de assistência à saúde. O presidente americano não vai recuar nesse sentido, sob pena de afundar todo o seu capital eleitoral. O “Tea Party”, de seu lado, não vai amargar a derrota indefinidamente. 
 
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Novo confronto está marcado para o início de 2014 e lá a disputa pega fogo. Agências de rating já ameaçam rebaixar a nota da dívida americana. Potências como a China pedem a “desamericanização do mundo”. Em outras palavras, ganha força a campanha para retirar do dólar o papel de moeda de referência das finanças internacionais. 
 
Há outras implicações no contexto dessa briga. E algumas delas afetam diretamente o Brasil. Depois da própria China e do Japão, cada um com mais de US$ 1 trilhão ancorado em títulos dos EUA, o Brasil é, por assim dizer, o terceiro maior país credor dos americanos, com mais de US$ 250 bilhões em créditos investidos ali. Na prática, quase toda a reserva nacional está depositada naquele pote e imaginar qualquer calote nessa área será demasiadamente catastrófico.
 
A eventual irresponsabilidade parlamentar no Capitólio, pode se prever, travaria a liquidez global de maneira insuportável. Eis o que está em jogo: um planeta refém economicamente diante da potência cuja liderança foi posta contra a parede. Talvez nem nos tempos da Guerra Fria ou da crise dos mísseis de Cuba se imaginou cenário tão tenebroso como esse. E o pesadelo ainda não acabou.

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